A criação em 1892, do distrito de Bebedouro, restituído a Jaboticabal, despojou o Município de Espírito
Santo de Barretos de parte de seu enorme território, Restou-lhe, ainda assim, considerável superfície explorada por homens que haviam tomado posse de terras, no avanço do pioneirismo, durante todo século XIX.
Entretanto, à proporção que os anos se passavam, o contínuo afluxo de outros indivíduos gulosos de terras férteis e campos vastos, vinha-se tornando séria aos legítimos direitos dos antigos posseiros, que mantendo as glebas abertas, não cercadas, nem divididas, sentiram a necessidade de mandar demarcá-las.
Foi a época das grandes divisões de terras, em todo o Município, cuja porção menos desenvolvida formava o Sertão dos Olhos D' Água, cortado pelo Rio Turvo, pelo Ribeirão Cachoeirinha e por ampla rede de pequenos tributários.
Por esse tempo, a chamado de Jesuíno da Silva Melo, chegaram a Barretos, os engenheiros escoceses Robert John Reid e William Leatherbarrow. Coube-lhes, inicialmente, a tarefa de dividir a fazenda Palmeiras, que antes confiada a outros "dois agrimensores estrangeiros, estava paralisada."
Em 1896, já residiam, na vila, e, bem relacionados, compareciam a reunióes sociais. O engenheiro Reid logo se tornou amigos do Dr. Antônio Olímpio Rodrigues Vieira, cearense, Promotor de Justiça, que viera fixar residência, na sede da comarca. Exercera antes, idênticas funções, em Passos, "onde contraíra casamento com a senhorinha" Maria Isoleta Carneiro de Arantes.
Com o nascimento de uma criança, que seria a única filha do casal, o compadrio veio concorrer para estreitar ainda mais, os laços de amizade que ligava o engenheiro ao promotor e à sua esposa. De fato, fora o moço estrangeiro, convidado para padrinho da menina que se chamava Maria Olímpia, nascida em São Paulo, a 2 de fevereiro de 1897. Batizada pela tia D. Mariana Arantes e pelo Dr. Robert John Reid, veio para Barretos "com menos de quarenta dias".
Desse modo, o engenheiro já se tornara compadre do casal, quando os posseiros do Sertão dos Olhos D' Água (Antônio Marcolino Osório de Souza, Joaquim Alves Franco e outros) confiaram a divisão da fazenda a Jesuíno da Silva Melo. Este, porém foi logo substituído pelo Dr. Robert John Reid.
O processo para a "medição e divisão" da fazenda Olhos D' Água teve inicio a 1º de novembro de 1897, entretanto, somente, em 21 de junho de 1900, se realizou "a primeira diligência especial para a instalação dos trabalhos divisórios". Os inúmeros interesses, em jogo, e a extensa área a demarcar, contribuíram para que o término da divisão, somente se verificasse, alguns anos mais tardes, isto é, em 7 de setembro de 1904.
Durante esse tempo, o engenheiro encontrou não poucos obstáculos e tomou contato com as enormes dificuldades que vivia a gente sertaneja, estabelecida, aqui e ali, nas margens dos rios, à beira dos córregos, nas clareiras abertas, no fundo das matas.
A maior de todas talvez fosse o abastecimento e o comércio dos produtos das lavoura e da pecuária. Nada, porém, mais terrível que os efeitos das moléstias tropicais e outras que abriam enormes claros entre os moradores. Além dos males comuns a que se haviam acostumado, toda região sempre esteve sujeita a surtos epidêmicos. A mortalidade infantil atingia a índices inacreditáveis.
A insalubridade aliada aos desconhecimentos dos princípios mais elementares da higiene e à maneira de enfrentar as doenças, faziam com que seus habitantes se resignassem a pagar, anualmente, aos implacáveis inimigos do homem, o mais triste dos tributos. Eram levados a recorrer à medicina caseira e a crer na eficácia das simpatias. O lúgubre espetáculo dos banguês, cortando os estreitos caminhos, rumo à última morada, era comum para aqueles heróis anônimos do sertão.
O velho casarão, em ruínas - o Taperão - que o engenheiro Reid encontrou, à esquerda do Córrego Olhos D'Água, e o cemitério, a que muitos trilhos conduziam, na margem direita, eram a prova mais aterradora das precárias condições que o isolamento e as distâncias impunham a todos.
As vicissitudes de toda uma população, entregue à sua própria sorte, levou aquele homem culto e civilizado a pensar na fundação de um núcleo urbano - um comércio, como se dizia - que pudesse desenvolver-se e, com o tempo, trazer os benefícios do progresso, do conforto e segurança para as famílias ai reunidas. Empregou o engenheiro Reid toda força de presuasão de que era capaz para convencer os condôminos da Fazenda Olhos D' Água, da conveniência e das vantagens da criação do povoado.
O primeiro a fornecer partes de suas terras para o patrimônio foi Joaquim Miguel dos Santos, e por sua interferência, conseguiu o engenheiro escocês fazer com que os demais condóminos, descendentes quase todos do desbravador Antônio Joaquim dos Santos, doassem, igualmente, igualmente, algumas nesgas de suas glebas.
A notícia dos primeiros passos para o estabelecimento do pequeno centro urbano, nas duas margens do córrego, os moradores ribeirinhos, tomados de entusiasmo, reuniram-se, a 3 de maio de 1902, para erguer o cruzeiro, no local da futura capela.
Em 2 de março de 1903 era feita a doação de 100 alqueires de terras para constituição do patrimônio de São João Batista dos Olhos D'Água. Reza a escritura lavrada, naquele dia, no cartório do 1º Tabelião Francisco de Ameida Silvares, em Barretos, que "que compareceram como outorgantes doadores João Francisco dos Reis e sua mulher Dona Ignacia Eva de Jesus, Miguel Antonio dos Reis e sua mulher Dona Carolina Luiza de Jesus, Dona Marianna Francisca do Carmo, Dona Marianna Ignacia de Jesus, Francisco Miguel dos Santos, Antonio Miguel dos Santos, João Antonio de Campos, João Ignácio de Souza e sua mulher Dona Francisca Flauzina de Jesus, João Bonifacio da Freiria, Jeronymo Bonifacio dos Santos, David Ozorio dos Santos, Gabriel Garcia dos Santos, Jeronymo Antonio dos Santos e sua mulher Dona Isabel Maria de Jesus, Miguel Virissimo dos Santos, Marcolina Frauzina da Freiria, Antonio Felisberto dos Santos, Joaquim Miguel dos Santos e sua Mulher Dona Querubina Maria de Jesus, D. Ignez Rita de Jesus e Dona Maria Generoza de Jesus.
Em 9 de Julho de 1903 seria a escritura de doação registrada "às fls. 53, do livro 3-I de Transcrição de Imóveis", data que também consta nos "arquivos de documentação municipal" do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, como pode ser lida, na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. XXIX, pag. 200.
Deveu-se a escolha do padroeiro, ao fato dos doadores serem certamente devotos de São João - patrono da fecundidade agrí;cola -, porém, o nome Olímpia não foi, como pode parecer, tomado à homônima grega, em cujos santuários, se realizavam de quatro em quatro anos, em honra de Júpiter - o maior dos Deuses helênicos - importantes festividades e grandes jogos atléticos. Foi o Dr. Robert John Reid quem "solicitou ao Dr. Antônio Olímpio que ao ser criado o distrito, fosse dado o nome de Vila Olímpia, em homenagem, à Maria Olímpia". O pedido do engenheiro foi, facilmente, atendido, pois o Dr. Antônio Olímpio Rodrigues Vieira, desde dezembro de 1901, vinha chefiando a política municipal e gozava de largo prestígio, em São Paulo.
O gesto elegante do Dr. Reid de escolher para a vila, o nome da afilhadinha, por pouco, não chegou a ser anulado, quando num vaivém da política, na eleição de 14 de dezembro de 1907, a vitória sorriu ao "Partido Arara", de Silvestre de Lima. Em Vila Olímpia, os seus partidários reuniram-se para exigir-lhe a mudança do nome do lugar, já que lembrava a filha do líder do "Partido Pica-Pau", então, fragorosamente derrotado.
Mas o Coronel Silvestre, chefe do partido vencedor, recusou-se terminantemente a atender o pedido dos companheiros, que foram a Barretos, em caravana, por parecer-lhe torpe vingança: - atitude que bem revela a grandeza moral daquele homem, conhecido também pelos dotes excepcionais de inteligência.
Fonte de Pesquisa: Professor José Sant'ann e Rothschild Mathias Neto